Foi no dia 28 de março,
no sempre lembrado ano de 1968, que o comandante da tropa da PM, aspirante
Aloísio Raposo, matou o secundarista Edson Luís de Lima Souto com um tiro a
queima roupa no peito.
Ele não era uma
liderança ou mesmo um militante do movimento estudantil. Morreu por estar lá. Os
estudantes haviam marcado uma manifestação do restaurante Calabouço, no Rio de
Janeiro, para protestarem contra o anunciado aumento do preço da refeição. Edson
Luís tinha tudo para participar. Paraense, mudara para o Rio e fazia o curso
secundário no Instituto Cooperativo, que funcionava no próprio Calabouço. O estudante
Benedito Frazão Dutra também foi atingido e chegou a ser levado ao hospital,
onde morreu.
Aquilo foi o suficiente
para que explodisse o grito na garganta de estudantes do Brasil inteiro, no que
foram acompanhados por milhares de outros brasileiros também indignados com o
regime militar, que completava quatro anos.
A senha foi a “Passeata
dos 100”, no Rio, que reuniu estudantes, artistas, intelectuais, políticos e
clérigos. E manifestações se repetiram em praticamente todas as capitais e
grandes cidades do País.
O duplo fuzilamento
deste 14 de março, vitimando a vereadora Marielle Franco (PSOL-Rio) e Anderson
Gomes, que dirigia o carro em que estavam, pode ser o momento da nova explosão.
O governo instalado
ilegitimamente em 2016 não cansa de esbofetear o povo brasileiro. Após golpear
a presidenta eleita, jogou no lixo o programa vencedor em 2014, com a chapa em
que Dilma Roussef era acompanhada pelo próprio Michel Temer, e passou a demolir
tudo quanto fosse conquista popular ou nacional.
Por meio de Emenda Constitucional
impediu que venha a ocorrer ampliação de orçamento público em setores
absolutamente indispensáveis por não menos que 20 anos. Esterilizou os
currículos da escola pública, generalizou o sistema de terceirização de mão de
obra, inclusive em cargos públicos, aboliu direitos trabalhistas vigentes há 70
anos, fragilizou a estrutura sindical de defesa dos trabalhadores, abriu a
Amazônia à exploração internacional, entregou a interesses estrangeiros a Base
de Alcântara, assim como a exploração do petróleo, aí incluídas as reservas do
Pré Sal.
O crédito imobiliário
foi contido, o salário mínimo foi reduzido, servidores públicos deixaram de ter
reajustes e cancelaram-se concursos para novas vagas. Vários programas sociais
simplesmente desapareceram, como o Ciência sem Fronteiras, a Farmácia Popular,
o de formação técnica de mão de obra, entre outros.
Não é só. As
universidades tiveram os seus orçamentos podados, foi abolido o controle sobre
o trabalho escravo.
Não satisfeito, o
governo enveredou pelo caminho das privatizações, colocando patrimônio público
à venda por preços absolutamente aviltados, como promete fazer com o setor
elétrico. Ao mesmo tempo, negocia a entrega a multinacionais do Aquífero
Guarani, uma das duas maiores reservas de água do mundo.
A população conseguiu
conter ao menos a reforma da Previdência, com a qual simplesmente se retira dos
trabalhadores a expectativa da aposentadoria, além de precarizar as condições
de subsistência, por exemplo, de pensionistas e deficientes físicos.
Até quando suportar?
A população assiste a
tudo isso e muito mais. Um arranjo entre o governo ilegítimo, a grande mídia e o
judiciário dá sustentação a essa política em que os interesses nacionais e
populares são solapados. A docilidade do Congresso Nacional, inclusive com relação
à ampliação da corrupção numa escala estratosférica, é desavergonhadamente
comprada, com recursos para os próprios parlamentares e pela satisfação de
interesses dos grupos econômicos que os mantêm, especialmente o setor
financeiro (patrono do golpe) e o agronegócio.
Até aqui, fica a
impressão de que a revolta popular tenta se resolver inflando os índices de
preferência da candidatura de Lula, numa clara provocação ao arranjo golpista e
numa demonstração enfática de onde reside a esperança. Mesmo nada indicando que
os detentores do poder permitirão que os
brasileiros elejam o presidente que parece já terem escolhido.
Ao lado disso, embora
tudo indicasse que a instauração de intervenção militar no Rio de Janeiro fosse
uma jogada de “marketing”, o que se vê é que se sente respaldado o que há de
banditismo no aparelho policial do Estado.
E não podia ser
diferente. A vítima simbólica é uma mulher, negra, favelada, lutadora, de
esquerda, comprometida com os direitos humanos.
Este é o alvo da
violência. Se é mulher, se é negra, se é pobre, se está revoltada, cale-se.
Esconda-se na sua favela para que tudo pareça que caminha “normalmente”, como
alardeiam manchetes de jornais e programas de TV.
O que pode deter isso é
a resposta vigorosa da sociedade, a demonstração de que está disposta a
enfrentar os que não cansam de pisoteá-la.
Passados 50 anos, o
nome de Edson pode ser Marielle.
Fernando Tolentino
Até quando vamos suportar calados tantas atrocidades, primeiro nossos direitos como você mesmo mencionou que a 70 anos estavam em vigor, e esse golpista em menos de um ano e meio acabou com tudo, mas o pior é ver nossos jovens calados como se não tivessem nada a ver com essa situação. Quantos Edsons ou quantas Marielles precisaram morrer?
ResponderExcluirTomara que essas execuções contribuam para tirar o povo dessa letargia e explodir sua indignação nas ruas! MARIELLE: Presente!!
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