domingo, 26 de janeiro de 2014

GENOÍNO, DELÚBIO, DIRCEU, JOÃO PAULO E ITAMAR NÃO SERÃO ABANDONADOS



A foto é do abraço ao acampamento da Trincheira da Resistência, 
montado junto ao STF,  em Brasília, quando se completaram 30 dias 
em que os presos petistas eram mantidos em regime fechado,
 ao contrário do que determina a condenação deles. 
Depois de intensa chuva, o abraço foi ornamentado por um belo arco-íris.
 
Ao assumir a Presidência, após o "impeachment" de Fernando Collor, Itamar Franco expôs a sua velha paixão pelo fusca, sendo a Volkswagen estimulada a relançar o modelo no mercado brasileiro, claro que numa versão incrementada.
O fusca e Itamar voltaram ao noticiário neste fim de semana, mas a história é completamente diferente. Não se trata de um vice-presidente subitamente alçada à Chefia do Poder Executivo. Longe disso. E o pobre fusca, ao contrário do relançamento, é personagem de uma das cenas mais perversas da farsa interpretada por mascarados que, a mando sabe-se lá de quem, tentaram insuflar toda a sorte de descontentes para - em nome de um inconformismo com os investimentos feitos para o Brasil sediar a Copa do Mundo de futebol - gerar manifestações contra o governo de Dilma Rousseff.
Incapazes de atrair a população, os tais arruaceiros travestidos de manifestantes resolveram ocupar as generosas manchetes de meios de comunicação com a destruição de bens públicos e privados. Quer dizer, pretendendo começar os protestos de 2014 por onde terminaram os de 2013.
Não satisfeitos com vitrines de lojas e agências bancárias, veículos da guarda municipal paulistana e abrigos de ônibus, entre outros objetos, voltaram-se contra carros particulares. E atearam fogo, justamente ao pobre fusca de um serralheiro chamado Itamar que voltava da igreja com a sua família. Enquanto o trabalhador cuidava de salvar os passageiros, inclusive uma criança de quatro anos, o seu carro se consumia nas chamas. O fusca que, nos dias de trabalho, o serralheiro usava para fazer as suas entregas. Com isso, fica claro de que lado da luta de classes estão os mascarados.
Pois, por volta das 18 horas, o blogueiro Eduardo Guimarães lançou no Facebook o que definiu como "uma ideia genial", a de "uma campanha para arrecadar fundos para comprar outro fusca para o serralheiro que teve o seu incendiado pelos black blocs". Estimou que contribuições de R$ 30 seriam suficientes caso houvesse a adesão de umas 200 pessoas. À noite, Guimarães já conseguira identificar o serralheiro e obtivera o apoio de pelo menos 300 participantes para a campanha. Nessa progressão, o número tende a superar o de baderneiros que quase feriram de morte a atividade profissional do serralheiro Itamar. Viva! Ainda hoje Itamar pode sonhar com a retomada do seu trabalho, pois Eduardo vai procurá-lo e informar do sucesso da campanha, de que ainda sequer tem notícia.
O nariz de cera deste texto vem a calhar para mostrar os dois lados de uma quase guerra.
De um lado, os que não se conformam com a construção de um processo de inclusão social iniciado com a eleição de Lula, em 2002, e que promete engrenar a quarta marcha com a reeleição de Dilma, em outubro próximo, assegurando um período contínuo de pelo menos 16 anos. As formas dessa luta são variadas e podem se traduzir em vandalismo criminoso misturado com tentativas de empolgar massas de insatisfeitos. Podem também, como temos visto, aparecer na campanha para desqualificar a força política que lidera esse projeto de nova sociedade, passando à sociedade a falsa ideia de que se trata de gente desonesta e, mais que isso, os únicos desonestos da política nacional. Foi o que se viu no julgamento da AP 470 e na sua fabulosa cobertura jornalística e se vê na leniência da condução (e da cobertura de imprensa) de processos judiciais envolvendo os seus adversários.
Do lado oposto, estão os comprometidos com a novidade política representada pelos governos Lula e Dilma. A sua força revela aspectos absolutamente imprevisíveis. É essa gente que se solidariza com o pobre serralheiro Itamar, a um chamado de um blogueiro que sequer tem filiação partidária, e em poucas horas dá uma resposta tão significativa à barbárie dos destruidores black blocs.
Foi essa gente também que proporcionou uma experiência sem precedentes na história política brasileira e muito provavelmente do mundo. Contestando as razões das condenações de líderes importantes do seu projeto político, que pretendem ver revertidas com a comprovação da inocência deles, tomam nas mãos a responsabilidade de pagar a multa imposta a José Genoíno, ex-presidente do PT. E, no curtíssimo prazo de dez dias, juntando contribuições de milhares de pessoas, reuniram não somente o exorbitante valor determinado pelo tribunal, de R$ 667.513,92, mas R$ 761.962,60. Ou seja, já praticamente permitindo que, após pagas as despesas necessárias para a realização da campanha, a família de Genoíno participe de uma nova campanha para assumir as multas dos demais condenados petistas.
A próxima multa a ser paga é a de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Está fixada em R$ 466.888,90. Até o fechamento deste texto já se contabiliza R$ 108.061,37.
Quero dizer que não conheço pessoalmente Delúbio. Diferente de José Genoíno, a quem aprendi a respeitar muito antes de militar no PT. Ele era admirado por servidores da Câmara Federal (inclusive os vinculados a deputados dos mais diversos partidos), por todos os jornalistas com os quais privei, pelos terceirizados e pelos parlamentares (também de todos os partidos). A admiração e o respeito deviam-se justamente à seriedade, à honestidade e ao tratamento respeitoso dispensado a todos. Nenhum tribunal de exceção vai manchar essa reputação.
Além disso, nas relações internas do PT (partido em que milito), nunca tive proximidade com a corrente integrada por ele. Isso quer dizer que não teria o meu voto para chegar à direção nacional do Partido. Nada disso interessa, já contribuí para o pagamento da multa de Delúbio, como contribuirei na campanha para a reposição do fusca de Itamar.
Ambos foram vítimas de injustiças inomináveis. Os dois estão sofrendo por estarem no mesmo lado da luta em que estou. Vítimas dos mesmos algozes.
No caso de Delúbio, como de Genoíno, de José Dirceu, de João Paulo Cunha, muito mais do que isso. Estamos ombreados no mesmo projeto. O de resgatar, da sua situação de exclusão, setores da sociedade que sempre viveram as mesmas dificuldades de Itamar, quando não condições de miséria tais que sequer se aproximam do nível de vida do serralheiro.
Esse projeto não será interrompido. E não o será porque a maioria da população brasileira já entendeu que ele deve continuar e porque tem ao seu lado pessoas que não se afastarão dos companheiros condenados. Temos clareza que eles pagam as nossas penas, a punição por lutar para construir uma sociedade diferente daquela em que fomos criados. Já estão pagando com a prisão. Deixem as multas por nossa conta.
Convido todos os que estão solidários com a construção dessa nova sociedade a se juntarem nessa campanha.
Fernando Tolentino

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