quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

AÉCIO NÃO ESTÁ ERRADO

Quando Aécio Neves se insurge raivosamente contra o encaminhamento à Polícia Federal, pelo ministro da Justiça, de documentos reveladores do envolvimento de importantes tucanos paulistas com no cartel do metrô, o máximo que se pode questionar é que o rapaz está mal acostumado.
Realmente, como se poderia exigir dele que aceitasse com naturalidade, ainda não a apuração, mas sequer a perspectiva de que isso venha a ocorrer?
Já não fosse o aprendizado, com o exemplo e a orientação do avô de que, se são irrefutáveis as provas, diga que são falsas, não ocorre ao moço qualquer precedente significativo de apuração de irregularidades em que políticos a ele ligados estivessem envolvidos. Cedo aprendeu com os correligionários paulistas que CPIs foram instituídas para investigar adversários. Bom observador, viu que Procurador Geral da República tinha o mesmo compromisso que as CPIs. Não seria a Polícia Federal que fugiria a regra.
A mídia, no duplo governo tucano de Fernando Henrique, limitou-se a ilustrar capas e manchetes isoladas com fatos que seriam escândalos em quaisquer outros governos e jamais foram além de alguns dias de repercussão. Só o necessário para confirmar a crença popular de que “não vai dar em nada mesmo”. Isso no governo federal. Nos governos estaduais do PSDB, nem pensar.
O rapaz viu sepultada uma sucessão de casos que transformariam em meliante qualquer líder petista acaso os sinais fossem trocados e os governos fossem liderados pelo PT. Como sempre, de que importam as provas? Que sejam convenientemente esquecidas. Furnas, Banestado, compra de votos para a reeleição, privatizações graciosas de estatais, a aquisição das ambulâncias. Não houve caso que deixaria de virar fumaça ou sumisse na portentosa gaveta do Senhor Procurador.
Ao ver o ministro José Eduardo Cardozo encaminhar à Polícia Federal provas contra correligionários, o senador deve ter tomado um susto. De um lado, a reação natural de oligarca: “Quem esse cara pensa que é? Ele não sabe de quem está falando?” Quase deixaria escapar: “Ele por acaso está pensando que essas provas atingem petistas?” De outro, a atitude racional, a constatação de que seria indispensável impedir o início da apuração, lancetar o tumor antes de intumescer a ponto de explodir pus para todos os lados. Para isso, a melhor tática, aquela conhecida por qualquer torcedor de futebol: a melhor defesa é o ataque. No melhor estilo recomendado pelo ídolo e avô. Jogada de risco. Nem o tradicional agressor Álvaro Dias quis emprestar sua voz. Mas teria a seu favor a repercussão na grande mídia, tanta que só assim apareceu, com exuberância, a escabrosa história do “trensalão”.  
Como o documento chegou às mãos do ministro por meio do deputado estadual Simão Pedro (PT), pressiona-se para obter de Cardozo nada mais do que, como ele mesmo diz, prevaricação.
Diante de deputados e senadores, o ministro hoje repetiu que tudo será apurado. Para isso, o País conta com uma Polícia Federal profissionalizada e agora com total independência para efetuar suas investigações.
Indícios há e são tão sérios que a Suíça está fazendo todo o esforço possível para chegar à verdade. Inclusive apelando para o apoio do governo brasileiro. Não se trata de alguém simplesmente batendo a carteira de um transeunte distraído. O promotor Marcelo Milani diz que os trens foram reformados a preços compatíveis com os de composições novas, em alguns contratos não houve competição e o superfaturamento nos dez contratos apurados atingiu R$ 875 milhões. Para que se tenha um ideia, praticamente 16 vezes o valor do chamado "mensalão". O processo se iniciou há 20 anos e perdurou em sucessivos governos tucanos de São Paulo. Se a grande mídia acha pouco e resolve não dar destaque ao fato, até tornando-o menor que a suposta partidarização no envio das provas para apuração, é outro problema. O Brasil já se acostumou com isso.
A Polícia Federal é que simplesmente não poder deixar de averiguar tudo o que de fato ocorreu e não interessa a que nomes chegará. Se forem tucanos, caro Aécio, você só terá que lastimar ao concluir que, ao menos de um lado da Praça dos Três Poderes, as coisas mudaram.
Fernando Tolentino

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