quarta-feira, 29 de setembro de 2010

VAMOS ACERTAR DE NOVO!!!


(A propósito do artigo de Ferreira Gullar “Vamos errar de novo?”,
na Folha de São Paulo de 5/9/2010)


Inicio com uma nota pessoal: aprendi a gostar de poesia quando fui apresentado aos poemas de Ferreira Gullar, nos anos 80. Apaixonei-me à primeira leitura pela delicadeza, pela profundidade e pela sofisticação de sua leitura dialética de tudo que é profundamente humano e brasileiro. Da “noite ocidental, obscenamente acesa sobre meu país dividido em classes” ao “açúcar branco e puro, produzido por homens de vida amarga e dura, para adoçar o café numa manhã em Ipanema”. Pra mim, são poemas imortais.

Mas desde o início do Governo Lula, percebo em Gullar uma indisposição visceral para com Lula e o PT. Um ódio tão impressionante que faz jus à postura do velho PCB de afagar a “burguesia nacionalista e democrática” enquanto combatia impiedosamente o surgimento e o crescimento do PT.

É uma pena que alguém que escreveu versos tão contundentes e apaixonantes para denunciar as iniqüidades sociais do país menospreze as realizações de um governo que conseguiu tirar 30 milhões de pessoas da miséria extrema e elevar à “nova classe média” mais 20 e tantos milhões!

Por que os governos da burguesia nacional, que nunca fizeram tanto pelo povo, mereciam apoio incondicional daquela esquerda na qual militou Gullar e hoje o governo do primeiro operário presidente só merece repúdio e condenação?

Não há dialética que explique!

E, pior: ainda se prefira e defenda, como alternativa, um candidato que representa o atraso, o retrocesso ao tempo em que o mercado contava mais que as pessoas, como exemplificam as privatizações, o Proer e a tibieza das ações sociais no governo demo-tucano, do qual Serra foi ministro 2 vezes: primeiro do Planejamento e depois da Saúde.

Parece uma dialética do povo que termina no calçadão da praia...

Gullar foi a maior parte da sua vida um homem de esquerda, filiado ao PCB. Não tem nenhuma obrigação de assim continuar para que se possa ver em sua trajetória alguma coerência. Mas juntar-se à direita para tentar derrotar os tímidos avanços da esquerda no país já é um pouco demais!

Num de seus mais belos poemas, escrito em homenagem a Che Guevara, “Dentro da noite veloz”, Gullar terminava dizendo que “a vida muda como a cor dos frutos; lentamente e para sempre; a vida muda como a flor em fruto; velozmente”.

Pois é. A vida mudou muito no Brasil nos últimos anos. Velozmente e para sempre! Especialmente porque o povo brasileiro, a quem Gullar dedicava seus poemas até a década de 70, não está mais atrás de salvadores da pátria – ainda que selecionados por currículo – e aprendeu a decidir sobre projetos de país, que é o que esta eleição coloca em jogo!

É lamentável que um intelectual, um artista que demonstrou tanta habilidade e maestria em usar a dialética em sua poesia não saiba – ou não queira – usá-la numa simples análise de conjuntura política.

Tudo para ele se resume a características curriculares. Não há por trás de Serra e Dilma visões de país; projetos de nação; assim como não há programas de governo nem visões de papel do Estado, já testados e avaliados pelo povo brasileiro: o neoliberalismo demo-tucano e o socialdesenvolvimentismo petista.

Se fosse por currículo, FHC teria que ter feito o melhor governo desse país. Mas, embora pareça ser o que pensa Gullar, não é o que pensam 80% de seus compatriotas.

Estamos elegendo a presidente do Brasil, não o chefe de um departamento da USP! Alguém que não precisa ser especialista em nada, mas terá que decidir sobre tudo. E até os especialistas sabem o quanto é difícil, por vezes, tomar uma única decisão.

Por fim, a comparação de Dilma com Jânio e Collor (“surgidos do nada”) é de um mau-caratismo que desonra a trajetória de Gullar. Só pra refrescar a memória: Jânio não surgiu do nada, mas da apologia udenista e golpista contra a “sujeira” do Governo JK. Collor também não surgiu do nada, mas da estratégia da direita - muito bem construída com a ajuda da Veja, da Globo et caterva – para impedir a vitória de Lula. Turma esta – udenistas, golpistas, Veja e Globo – que, como se vê, Gullar prefere, hoje, a seus antigos companheiros de luta. Uma lástima!

Ainda bem que a arte de Gullar é a poesia! Que continue sendo um grande poeta e que sua poesia continue ajudando a entender o Brasil.

Kleber Chagas Cerqueira (Professor e Servidor Público em Brasília)

VAMOS ERRAR DE NOVO?

Ferreira Gullar
Folha de São Paulo, 05.09.2010

Faz muitos anos já que não pertenço a nenhum partido político, muito embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos, buscando sempre examinar os fatos com objetividade.

Minha história com o PT é indicativa desse esforço por ver as coisas objetivamente. Na época em que se discutia o nascimento desse novo partido, alguns companheiros do Partido Comunista opunham-se drasticamente à sua criação, enquanto eu argumentava a favor, por considerar positivo um novo partido de trabalhadores. Alegava eu que, se nós, comunas, não havíamos conseguido ganhar a adesão da classe operária, devíamos apoiar o novo partido que pretendia fazê-lo e, quem sabe, o conseguiria.Lembro-me do entusiasmo de Mário Pedrosa por Lula, em quem via o renascer da luta proletária, paixão de sua juventude. Dura nte a campanha pela Frente Ampla, numa reunião no Teatro Casa Grande, pela primeira vez pude ver e ouvir Lula discursar.

Não gostei muito do tom raivoso do seu discurso e, especialmente, por ter acusado "essa gente de Ipanema" de dar força à ditadura militar, quando os organizadores daquela manifestação -como grande parte da intelectualidade que lutava contra o regime militar- ou moravam em Ipanema ou frequentavam sua praia e seus bares. Pouco depois, o torneiro mecânico do ABC passou a namorar uma jovem senhora da alta burguesia carioca.

Não foi isso, porém, que me fez mudar de opinião sobre o PT, mas o que veio depois: negar-se a assinar a Constituição de 1988, opor-se ferozmente a todos os governos que se seguiram ao fim da ditadura -o de Sarney, o de Collor, o de Itamar, o de FHC. Os poucos petistas que votaram pela eleição de Tancredo foram punidos. Erundina, por ter aceito o convite de Itamar para integrar seu ministério, foi expulsa.

Durante o governo FHC, a coisa se tornou ainda pior: Lula denunciou o Plano Real como uma mera jogada eleitoreira e orientou seu partido para votar contra todas as propostas que introduziam importantes mudanças na vida do país. Os petistas votaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e, ao perderem no Congresso, entraram com uma ação no Supremo a fim de anulá-la. As privatizações foram satanizadas, inclusive a da Telefônica, graças à qual hoje todo cidadão brasileiro possui telefone. E tudo isso em nome de um esquerdismo vazio e ultrapassado, já que programa de governo o PT nunca teve.

Ao chegar à presidência da República, Lula adotou os programas contra os quais batalhara anos a fio. Não obstante, para espanto meu e de muita gente, conquistou enorme popularidade e, agora, ameaça eleger para governar o país uma senhora, até bem pouco desconhecida de todos, que nada realizou ao longo de sua obscura carreira política.

No polo oposto da disputa está José Serra, homem público, de todos conhecido por seu desempenho ao longo das décadas e por capacidade realizadora comprovada. Enquanto ele apresenta ao eleitor uma ampla lista de realizações indiscutivelmente importantes, no plano da educação, da saúde, da ampliação dos direitos do trabalhador e da cidadania, Dilma nada tem a mostrar, uma vez que sua candidatura é tão simplesmente uma invenção do presidente Lula, que a tirou da cartola, como ilusionista de circo que sabe muito bem enganar a plateia.

A possibilidade da eleição dela é bastante preocupante, porque seria a vitória da demagogia e da farsa sobre a competência e a dedicação à coisa pública. Foi Serra quem introduziu no Brasil o medicamento genérico; tornou amplo e efetivo o tratamento das pessoas contaminadas pelo vírus da Aids, o que lhe valeu o reconhecimento internacional. Suas realizações, como prefeito e governador, são provas de indiscut� �vel competência. E Dilma, o que a habilita a exercer a Presidência da República? Nada, a não ser a palavra de Lula, que, por razões óbvias, não merece crédito.

O povo nem sempre acerta. Por duas vezes, o Brasil elegeu presidentes surgidos do nada - Jânio e Collor. O resultado foi desastroso. Acha que vale a pena correr de novo esse risco?

Um comentário:

  1. O Departamento Nacional de Busca de Paradeiro e Restauração de Laços Familiares da Cruz Vermelha Brasileira está procurando o Professor Universitário CLÉBER(KLÉBER) CHAGAS CERQUEIRA (5960), nasceu mais ou menos em 1964 no Brasil, casado,
    As últimas notícias recebidas em 1990 informaram que ele estava residindo em Brasília,DF.
    Quem solicita a busca é Ana Maria Reguera Alvarez residente em Havana, Cuba.
    Qual informação para o Departamento de Busca de Paradeiro da Cruz Vermelha Brasileira e falar com o Voluntário Advogado Oswaldo Amarante Filho.

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